sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Mulheres caladas na igreja?

Qual a razão para a ordem de Paulo em 1 Coríntios 14:34, 35. Será que a mulher não pode  falar na igreja?

Os versos 34-36 de 1 Coríntios fazem parte da seção sobre a ordem no culto (14:26-40), e devem ser analisados à luz desse contexto. Ao olharmos essa seção, podemos ver o que estava perturbando a adoração pública na igreja de Corinto: (1) muitas partes e muitos oradores em um mesmo culto – 14:26; (2) diversas pessoas falando em línguas estrangeiras, ao mesmo tempo e sem intérprete - 14:27, 28; (3) vários profetas tentando transmitir sua mensagem, e todos ao mesmo tempo – 14:29-33; e (4) mulheres falando e perguntando durante o culto – 14:34, 35.

Reconhecemos que poucos versos bíblicos têm causado tanta discussão quanto esses, dirigidos à igreja de Corinto. Mas devemos estar certos de uma coisa: quando Paulo fala contra determinada prática na igreja é porque a mesma estava sendo prejudicial à comunidade cristã. E esse é o caso das mulheres falarem na igreja de Corinto.

Como se sabe, as mulheres no tempo de Paulo não falavam em público.

Então, o evangelho chegou à importante cidade de Corinto e muita gente se converteu, inclusive mulheres. Parece que elas interpretaram mal as palavras de Paulo de que “onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade” (2 Co 3:17), e acharam que essa liberdade cristã lhes dava o direito de romper com os costumes aceitos pela sociedade em que viviam.

Essa prática de mulheres falarem no culto, nos dias de Paulo, era considerada “indecorosa” ou “vergonhosa” (14:35) “porque os costumes dos gregos e judeus ordenavam que as mulheres se retirassem quando se discutiam assuntos públicos. A violação desse costume era considerada uma desonra e estava trazendo vergonha para a igreja” (F. D. Nichol, Comentário Bíblico Adventista del Séptimo Dia, v. 6, p. 788).

As mulheres eram tidas em baixa conta, não só entre os gregos, mas também entre os judeus. “Muitos rabinos duvidavam que as mulheres tivessem alma. Se um escravo do sexo masculino podia ler as escrituras na sinagoga, uma mulher judia não tinha permissão para tanto. Nenhuma mulher podia freqüentar as escolas de teologia. Na realidade, os rabinos afirmavam: “É preferível queimar a lei a ensiná-la a uma mulher!” (R. N. Champlin, O Novo Testamento Interpretado, v. 4, p. 230).

Quando Paulo diz que às mulheres “não lhes é permitido falar; mas estejam submissas como também a lei o determina” (14:34), ele tem em mente a lei mosaica como um todo, especialmente Gênesis 3:16 e Números 30:8-12, passagens que fazem a mulher depender totalmente do marido, por estar sujeita a ele.

1 Coríntios 14:35 diz que, se a mulher quisesse aprender alguma coisa, perguntasse em casa ao marido. O fato é que nas sinagogas os homens podiam disputar, dialogar e fazer perguntas, as mulheres não. Fazer isso seria considerado ousado demais para os costumes dos judeus e gregos da época de Paulo.

Palavras tão enfáticas quanto às de 1 Coríntios 14:34, 35 são as de 1 Timóteo 2:11, 12: “A mulher aprenda em silêncio, com toda a submissão. E não permito que a mulher ensine, nem exerça autoridade de homem; esteja, porém, em silêncio.” A sociedade daquele tempo esperava que o homem ensinasse e a mulher aprendesse. Pelo visto, se uma mulher pretendesse ensinar, isso seria considerado como desempenho de um papel masculino e uma usurpação em relação ao papel do homem (O Novo Testamento Interpretado, v. 4, op. cit, p. 231). É nesse contexto que as palavras do apóstolo Paulo devem ser entendidas, e não à luz dos costumes de hoje, especialmente nos países ocidentais, onde as mulheres atuam, praticamente, em todas as áreas, e isso não é considerado “vergonhoso”, nem “indecente”.

O problema em Corinto parece que tinha mais que ver com a fala das mulheres no culto público. Elas deviam ficar caladas “na igreja” (14:34), pois, pelo que podemos perceber ao longo das páginas do Novo Testamento, elas poderiam falar em reuniões particulares, até mesmo ensinando, como aconteceu com Priscila, que, juntamente com o marido Áquila, ensinou, com mais exatidão o “caminho de Deus” a Apolo (At 18:24-26). Também digno de menção é o nome de Febe, diaconisa de Cencréia, um porto de Corinto, provável portadora da epístola de Paulo aos Romanos (ver Rm 16:1). O fato de ela ser uma “diaconisa” (no grego diákonos) pode indicar sua participação ativa, usando a voz na pregação do evangelho, tal como os diáconos escolhidos pela igreja em Atos 6, dentre os quais se destacam Estêvão, que pregava o evangelho com palavras cheias de sabedoria e poder do Espírito Santo (At 6:10) e Filipe, o evangelista (At 8:4-8; 21:8), cujas quatro filhas eram profetisas (At 21:9).

E hoje, como aplicar as palavras de Paulo quanto ao silêncio das mulheres no culto público? Como os tempos mudaram e a situação das mulheres na sociedade também (ao menos nos países ocidentais), devemos atentar agora ao princípio que está contido nas palavras do apóstolo aos gentios, que é o de se buscar a decência e a ordem (I Co 14:40) em tudo quanto fizermos, especialmente no culto, “pois Deus não é Deus de confusão” (I Co 14:33). E isso vale tanto para as mulheres quanto para os homens.

E, por último, uma palavra de apreço às mulheres por sua inestimável atuação em todas as áreas, especialmente às professoras (de ensino religioso, na igreja, e de matérias seculares nas escolas) e outras que lideram departamentos da igreja.

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Fonte: http://setimodia.wordpress.com/2011/11/16/mulheres-caladas-na-igreja/

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Arcanjo Miguel é Jesus Cristo?

Adventistas não exorcizam?

É pecado ser homossexual?

Et's existem?



Na Mira da Verdade é um programa onde as duvidas bíblicas ou qualquer questionamento sobre religião dos telespectadores (Tv Novo Tempo),internautas (www.novotempo.org.br/tv) ou ouvintes (Radio Novo Tempo) são respondidos biblicamente e para isso é considerado não somente o contexto do passagem bíblica questão ou usada como base para a resposta, mas também o contexto do assunto na bíblia com um todo, e quando necessário, recorrendo ao contexto histórico e cultural da passagem ou também recorrendo texto no original grego ou hebraico, tudo para que se chegue a interpretação mais fiel e correta possível.

É correto um cristão ser policial?

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Além de não proibir um cristão de ser policial, a Bíblia exalta essa profissão que é extremamente importante no contexto de pecado (1Jo 5:19) em que vivemos.

A aprovação de Deus podemos encontrar, por exemplo, em Lucas 3:14, onde o profeta João Batista aconselhou da seguinte maneira os soldados romanos que ouviram sua pregação:

“Então alguns soldados lhe perguntaram: ‘E nós, o que devemos fazer?’ Ele respondeu: “Não pratiquem extorsão nem acusem ninguém falsamente; contentem-se com o seu salário”.

João Batista era um pregador que não temia “chamar o pecado pelo nome”, tanto que foi morto por isso (ver Mt 14:1-12; Mc 6:14-29; Lc 3:19, 20; 9:7-9). Entretanto, quando interrogado pelos soldados quanto ao que deveriam fazer para terem o favor e a aprovação de Deus, o profeta inspirado não os aconselhou a abandonarem a profissão deles.

Ao invés disso, os orientou a serem honestos no trabalho, sem extorquir os outros e a tratá-los com respeito e dignidade.

O valor a profissão de policial (entre outras funções que trabalham pela ordem e segurança da sociedade) é apresentada em Romanos 13:4, que diz ser a autoridade “serva de Deus” (Nova Versão Internacional) para o bem dos cidadãos que vivem como verdadeiros cidadãos.
Ao mesmo tempo, a Bíblia diz que, além de serva do Criador, a autoridade é “agente da justiça para punir quem pratica o mal” (Rm 13:4, última parte).

O POLICIAL E A ADORAÇÃO
Alguns cristãos que observam o sábado como dia de repouso pensam ser inviável conciliar a adoração a Deus no sétimo dia, como orienta o 4º mandamento do Decálogo (Êx 20:8-11), com a responsabilidade de um policial em cumprir com uma escala que o coloque em serviço no “dia do Senhor” (Is 58:13, 14; Mt 12:8; Mc 2:27, 28).

Porém, essa é uma questão pessoal. Isso é evidente no fato de que há pessoas que conseguem conciliar as duas coisas, enquanto que outras, não.

Obviamente, se for para não adorar a Deus no Seu santo dia, é melhor deixar de lado a profissão. Porém, para aqueles que conseguem ser adoradores e, ao mesmo tempo, servir a sociedade na luta contra o crime, poderão perfeitamente representar a Deus como Seus servos na punição dos criminosos que não se arrependeram dos seus pecados.

Em situações emergenciais (pois o pecado “não avisa” quando chegará com seus efeitos), o profeta Neemias contou com o serviço de guardas para que um mandamento de Deus não fosse desprezado pelo povo rebelde, que queria comercializar no dia de sábado:
“Quando as sombras da tarde cobriram as portas de Jerusalém na véspera do sábado, ordenei que fossem fechadas e só fossem abertas depois que o sábado tivesse terminado. Coloquei alguns de meus homens de confiança junto às portas, para que nenhum carregamento pudesse ser introduzido no dia de sábado” (Nee 13:19. Ver também Nee 13:15-22).

Perceba que esses “policiais” nos dias de Neemias não deixaram de ser adoradores do Deus de Israel, e conseguiram cumprir com suas obrigações para garantir o bem-estar da sociedade da época.
Isso nos leva a concluir que um policial que observa do sábado pode encontrar o ponto de equilíbrio. Enquanto que não negligenciará sua adoração e comunhão com o Criador (ver Hb 10:25), o soldado estará à disposição da sociedade, desde que isso não seja uma “desculpa” para negligenciar a própria vida espiritual, que sempre deverá estar em primeiro lugar (Mt 6:33).

CONCLUSÃO
A Bíblia não poderia proibir uma profissão tão importante. A autoridade é vista como “serva de Deus” (Rm 13:4) e o profeta João Batista, sobre inspiração, não foi contra o trabalho policial. Ao contrário, aconselhou aos soldados que exercessem suas funções com honestidade diante de Deus e dos cidadãos.
Vemos na Bíblia que, em situações emergenciais, em que a ordem de uma sociedade teocrática estava em jogo (ver Neemias 13:19), o profeta Neemias contou com o serviço de vigilância para impedir que no dia de sábado a cidade de Jerusalém participasse de uma atividade indevida para o dia santificado (comércio).
Todavia, se um cristão julgar que não poderá ser um adorador constante devido ao revezamento que ocorre na escala, será melhor não comprometer sua espiritualidade.
Há policiais que conseguem ser bem atuantes em sua esfera e, ao mesmo tempo, adorar a Deus na igreja, durante os cultos, especialmente no sábado. Por isso, é importante que, além de ler essa resposta, o cristão converse com outros crentes que tiveram êxito em seguir sua carreira militar e que se mantiveram  fieis na obediência ao quarto mandamento.
A experiência vivida por outras pessoas consagradas é uma das melhores escolas para aqueles que são menos experientes. Além disso, o reconhecimento das próprias limitações emocionais é fundamental no momento de avaliar os “prós” e os “contras” na escolha da referida profissão. Assim como em qualquer outra área da vida, ser policial é um “dom”, e nem todos terão estrutura psíquica e habilidade para isso.
Independente da escolha que fizer, saiba que Deus irá lhe abençoar e tornar-lhe uma pessoa bem-sucedida e realizada naquilo que fizer, se decidir todos os dias ser fiel e obediente a Ele em todas as circunstâncias, bem como representa-Lo dignamente onde quer que esteja (cf. Mt 5:13, 14).
“Portanto, quem ouve estas minhas palavras e as pratica é como um homem prudente que construiu a sua casa sobre a rocha. Caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram contra aquela casa, e ela não caiu, porque tinha seus alicerces na rocha. Mas quem ouve estas minhas palavras e não as pratica é como um insensato que construiu a sua casa sobre a areia. Caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram contra aquela casa, e ela caiu. E foi grande a sua queda” (Mt 7:24-27).

O Salmo 150 e o uso da percussão no louvor



“Aleluia! Louvai a Deus no seu santuário; louvai-o no firmamento, obra do seu poder. Louvai-o pelos seus poderosos feitos; louvai-o consoante a sua muita grandeza. Louvai-o ao som da trombeta; louvai-o com saltério e com harpa. Louvai-o com adufes e danças; louvai-o com instrumentos de cordas e com flautas. Louvai-o com címbalos sonoros; louvai-o com címbalos retumbantes. Todo ser que respira louve ao SENHOR. Aleluia!” (Sl 150 – Almeida, Revista e Atualizada).


Certa vez, estive em uma igreja no estado do Paraná onde a percussão era usada de forma sábia e equilibrada. O instrumento era elétrico e não ocupava o lugar central da programação, de modo que, ao entrar na igreja, você não tinha a impressão de estar num show de rock. Todos os instrumentos eram tocados harmonicamente, de modo que todos pudemos desfrutar de um culto racional (Rm 12:2) e alegre ao mesmo tempo (Fp 4:4).

Porém, não vi a mesma coisa em uma universidade fora do Brasil. Lá eles não se preocuparam com a imagética religiosa e o impacto que certas imagens podem causar na mente das pessoas. Especialmente daqueles que vieram para a igreja depois de terem tido uma vivência marcante num ambiente secular (Não descartemos que há subjetividade nisso, pois, as pessoas respondem de maneira diferente à imagens religiosas ou instrumentais).

Em tal lugar que visitei há cerca de um ano (início de 2011), o instrumento percussivo ocupava o lugar do púlpito (passou a ser o objeto central) e, ao entrar naquela igreja universitária, a sensação que tive (reconheço que outros não teriam a mesma reação) é que não estava em um culto, mas, numa programação totalmente secular.

Talvez esse disparate seja um dos fatores que gere tanta controvérsia no meio adventista quando o assunto é percussão. Alguns assistem a um culto onde o instrumento percussivo é usado com bom senso e se perguntam: “qual o problema com a percussão?” Outros, ao se depararem com uma programação de sábado onde os instrumentistas parecem roqueiros e nem mesmo se preocupam com o tipo de vestimenta para se apresentar diante do Senhor, respondem: “há muito problema na percussão, pois, nossas igrejas estão se pentecostalizando por causa dela!” (Veja 1 Crônicas 15:27, onde Deus orienta também os músicos a não se vestirem de qualquer jeito, ao ministrarem e dirigirem o louvor)

Creio que os dois lados têm suas razões particulares perfeitamente justificáveis. Porém, não estou aqui para tomar partido nesse assunto. Sendo que meus telespectadores e ouvintes “me cobram” uma resposta a respeito, pensei: se não sou especialista “especialmente” nesse tema, de que maneira posso dar alguma contribuição? Cheguei à conclusão de que deveria consultar a Sociedade Bíblica do Brasil (SBB) – e foi o que fiz. Enviei um e-mail para os estudiosos dessa abençoada Instituição e pude contar com a intermediação do irmão Denis, da Secretaria de Tradução e Publicações, para manter contato com o Dr. Vilson Scholz, consultor de Traduções da SBB.

Fiz duas perguntas a ele e fui muito bem atendido. E, por se tratar da resposta mais equilibrada que já li sobre o assunto, irei publicá-la na íntegra, em forma de entrevista, com a devida autorização.
ESCLARECIMENTOS

Antes, permita-me fazer algumas observações muito importantes, para evitarmos mal-entendidos:

1) Não sou a favor de cultos no estilo pentecostal, os barulhentos, que não agradam ao Espírito Santo (Ef 4:30, 31). Isso nada tem a ver com os irmãos pentecostais, amigos queridos a quem amo com amor cristão;

2) Não sou liberal em questão de música. No momento (11/01/2012) estou na Argentina, e o culto conservador daqui me agrada bastante (não agrada alguns e eles devem ser respeitados por isso). Todavia, não creio ser correto opinar sobre a validade ou não de um instrumento na adoração com base nos meus gostos pessoais. Gostos particulares não deveriam ditar o que é e o que não é verdade, mas sim a Palavra de Deus (a não ser que sejamos relativistas).

3) Creio que toda a igreja deve decidir sobre o assunto em Comissão, devidamente nomeada, tendo a opinião de líderes e músicos consagrados. Mas, que isso não deve ocupar o primeiro lugar na lista de discussões, pois, a missão evangelística da igreja (Ap 14:6-12) não pode (e não o será) engessada por causa dessas questões.

4) Nunca pense que, por mais sincero que seja meu esforço em contribuir, estou expressando a voz da Igreja. Nossa denominação – graças a Deus – define assuntos teológicos e administrativos com base na opinião de muitas pessoas, seguindo o conselho de Provérbios 11:14: “[...] na multidão de conselheiros, há segurança”. Há pessoas bem mais gabaritadas que eu para abordar esse tipo de tema e, por isso, recomendo que utilize esse texto apenas como uma contribuição aos seus estudos.

5) Desse modo, não seja infantil em utilizar meu texto para tentar forçar os outros a aceitarem suas ideias, pois, esse não é o propósito desse artigo (e nem da resposta do Dr. Scholz).

6) Não entro em discussões acirradas sobre o tema por que meu foco é outro (lido com as heresias que são disparadas contra nossa igreja e o farei até quando Deus o permitir). Respeito quem pensa diferente e quero ser respeitado.

7) O Dr. Vilson Scholz respondeu a minha segunda pergunta (sobre a presença ou não de instrumentos percussivos no Templo) com uma ressalva, segundo as palavras de Denis, funcionário da SBB: “[...] de que a questão extrapola suas funções e vai além da missão da SBB.”. Por isso, se alguém quiser discordar do doutor, saiba que a função dele na Sociedade Bíblica não é essa e que, portanto, ele não estará disponível para tal.

AO QUE MAIS INTERESSA
Vamos ao tema do artigo. A primeira questão que apresentei à SBB foi:
Necessito de uma explicação sobre o Salmo 150, pois, há teólogos questionando a tradução do mesmo. Eles alegam que o instrumento conhecido como “adufe” não está presente no original do texto. Porém, creio que a SBB tem razões linguísticas para traduzir assim o verso [...]
Dr. Scholz: [...] O texto hebraico traz a palavra “tôf” que, em Êxodo 15.20, foi traduzida por “tamborim”. Vejo que um grande número de traduções – a rigor, todas as que pude consultar rapidamente – trazem um termo parecido com “adufe” ou “tamborim”. Poderia ser, também, pandeiro. Às vezes essa palavra, que ocorre 17 vezes na Bíblia Hebraica, é traduzida por tambores, tamboril. O mesmo termo ocorre também em Jz 11.34, naquele episódio da filha de Jefté. Ali é traduzida por adufe. Não há nenhuma dúvida quanto ao significado desse termo. Quanto a “adufe”, o Dicionário Houaiss registra que se trata de “um tipo de pandeiro quadrado de origem árabe, usado por portugueses e brasileiros”. Portanto, algo do contexto oriental, bem ao sabor do mundo bíblico. E, além disso, algo que os portugueses e brasileiros supostamente conhecem.

Estranho que pessoas tenham dúvidas quanto a essa tradução. O que eu tenho ouvido – e recebido em forma de crítica – é a presença da palavra “danças”, em Sl 150.4, na Almeida Revista e Atualizada. Acontece que a Almeida Revista e Corrigida, por uma razão que ignoro, traz “flautas” naquele lugar. E há uma diferença entre dança e flauta! Mas o termo hebraico é, claramente, “dança”, por mais que isto incomode algumas pessoas. E as traduções tendem a seguir na linha da Revista e Atualizada.
Espero que isto o ajude na resposta àqueles que perguntam a respeito desse texto bíblico.
Grande abraço fraterno!

A segunda pergunta feita ao educado Dr. Scholz, foi esta:
[...] É verdadeira a afirmação de que, entre os instrumentos tocados no templo (inclusive no segundo), os adufes não mais estavam presentes?

Dr. Scholz: Esta é uma argumentação baseada na diferença entre o que afirmam dois textos: 2Crônicas 29.25-26 (acrescido de Ed 3.1) e Salmo 150, colocados numa suposta ordem cronológica. Há dois problemas envolvidos nessa discussão: a questão da cronologia e os argumentos tirados do silêncio.
Comecemos com a questão da cronologia. Somos nós que colocamos os textos numa sequência cronológica (na medida em que eles se apresentam sem data, no cânone) e somos nós que interpretamos o silêncio dos textos neste ou naquele particular. Se a colocação de Sl 150 após 2Crônicas é vista como fruto de pré-concepção, não menos preconcebida (e difícil de sustentar, em termos históricos) é a ideia de que Sl 150 é anterior a 2Crônicas. (Será difícil encontrar um biblista que pensa que o Salmo 150 é de “algum período pré-Santuário”. O fato de encerrar o Livro de Salmos sugere que foi escrito mais adiante, na história de Israel. Mas, de novo, não há como comprovar isso.) A colocação de Sl 150 antes de 2Crônicas se deve, não a argumentos históricos, mas ao desejo de provar que, a partir de certo momento, os tambores foram excluídos do culto, mesmo que o texto não afirme isso.

A questão do argumento do silêncio dos textos também é problemática. O fato de 2Crônicas não mencionar “adufes” não significa que não os houvesse naquele momento (tampouco que não vieram a existir ou a serem usados depois; é possível que, no período posterior a Ezequias, os adufes foram incluídos entre os instrumentos usados no culto).  Mas o mais importante é que um texto não “desmente” o outro abertamente. Se 2Crônicas dissesse, com todas as letras, “revogando o que havia anteriormente, conforme o Sl 150”, o problema estaria resolvido. Acontece, porém, que o texto não diz isso. Tampouco o Sl 150 diz: “aumentando a lista de 2Crônicas”. Assim, do mesmo modo como é possível argumentar a favor da sequência: “presença de adufes” (Sl 150) seguida de “ausência de adufes” (2Crônicas), é igualmente possível argumentar pela sequência “ausência de adufes”
(2Crônicas) – “presença de adufes” (Sl 150). Os textos, em si, não estabelecem um diálogo; quem os coloca lado a lado é o intérprete. E, em termos históricos, a sequência 2Crônicas – Sl 150 é mais crível do que a sequência contrária.

A rigor, temos textos bíblicos que mencionam os adufes e textos que não os mencionam. E não temos nenhuma indicação no sentido de que, a partir de certo momento, adufes não podiam mais ser usados. Na medida em que esses instrumentos são citados, são lícitos (ou eram lícitos em determinado momento). E enquanto não se disser, no texto bíblico, que não são lícitos, não podemos concluir que não sejam.

É claro que existem duas maneiras de argumentar (e aqui já passo à aplicação disso aos nossos dias): Primeiro, que só se pode usar o que é citado (ou ordenado) na Bíblia. Neste caso, nenhum instrumento elétrico ou eletrônico poderia ser usado! Segundo, que tudo que não é proibido na Bíblia, é lícito para uso. (Eu me identifico com este ponto de vista.) Como a Bíblia não proíbe os adufes ou tambores, que sejam usados por quem entender que é bom e possível usá-los. (É claro, há quem argumente que o Novo Testamento não ordena o uso deste ou daquele instrumento, no culto, o que poderia sugerir que não se deve usar instrumento algum. Por outro lado, o Novo Testamento não proíbe o uso de nenhum instrumento. No Apocalipse, aparecem harpas e trombetas.)

 Diante do silêncio do texto, vale o princípio de que “Tudo é lícito, mas nem tudo convém”. E o que não convém é aquilo que destrói, em vez de edificar; que ofende, em vez de animar. Como saber? Isto depende de onde se está e quem está envolvido na situação. Em outras palavras, não existe como definir de antemão aquilo que “não convém”. Se as pessoas se sentirem mortalmente ofendidas com a presença de um pandeiro, a ponto de deixarem a igreja, é preferível que saia o pandeiro, pelo menos até que essa situação seja esclarecida e as pessoas possam entender por que o pandeiro faz parte da banda. Se as pessoas não estão “nem ligando” e falta animação na banda, por que não incluir um pandeiro ou dois? Mais do que ter argumentos, nestes casos é preciso ser sábio.
Dr. Vilson – SBB

PALAVRAS FINAIS
Gostei muito da resposta bem embasada do Dr. Scholz e poderia destacar vários aspectos dela. Porém, me atenho ao bom senso que ele apresentou, ao levar em conta (1) o princípio bíblico de que não devemos “escandalizar” nossos irmãos (1Co 8:1-13; 10:32, 33; 11:1), bem como (2) o contexto sócio-religioso em que cada cristão se encontra.
Se tanto tradicionalistas quanto liberais (inclusive eu, que tento ficar entre o meio termo) seguirem tal princípio, e não esquecerem que o amor é uma das características distintivas dos seguidores de Jesus (Jo 13:35), haverá nos debates menos disputa (para se ter razão) e mais preocupação com aquilo que o outro sente durante o debate.
Creio que Deus quer isso.

Fonte: < http://novotempo.com/namiradaverdade/o-salmo-150-e-o-uso-da-percussao-no-louvor/>
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